Máscara Mortuária
Por: Maria Izabel Marini Arndt
Decididamente os defuntos não são mais os mesmos. Nem os velórios... Nem melhores, nem piores, apenas diferentes.
Me aproximo do caixão. Quase não a reconheço: base, sombra , batom, de tons suaves, é verdade, mas base, sombra e batom.
Justamente ela, que nunca se maquiava, lá estava: em vez da palidez da vida, o rosado da morte; do cinzento do inverno, o colorido do verão; das velas de sebo e calor, as lâmpadas inodoras e assépticas.
Descubro naquele momento por que as pessoas têm saído mais confortadas dos funerais. É que ficam encantadas com a expressão serena de seus mortos. Hoje, mais do que nunca, parecem estar dormindo. Parecem felizes com seu próprio fim...
De primeiro, o luto era mais longo e por muito tempo não se podia ouvir música. Hoje se ouvem e até cantam músicas nos velórios. Seja para homenagear os mortos, seja para fazer chorar os vivos. Afinal, não temos mais carpideiras...
Antigamente não bastava viver o luto, era preciso mostrar aos outros que o vivíamos. Por isso, as lapelas pretas nas camisas e o fumo roxo nas portas. Fiquei pensando enquanto tentava uma oração: o que ela diria? Recusaria a máscara? Ou estaria feliz com a transgressão dos próprios limites e conceitos construídos?
Estranhos seres os humanos. Precisam preservar a imagem a qualquer preço. Negam a fragilidade e a finitude da vida até na hora da morte.
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