marcio_ezequiel@yahoo.com.br
Outro dia Enrique Villa-Matas, escritor espanhol, dizia em entrevista que a humanidade está perdendo a capacidade da linguagem. Que a simplificação da escrita nos usos da internet, por exemplo, seria indício do fenômeno. Fiquei pensando se não seria justo o que todo escritor busca? Simplificação e síntese? Qual a moral de rebuscar uma redação, tornando-a complicada, repleta de adjetivos e firulas? Claro que escrever de maneira objetiva não significa subestimar o leitor ou diminuir a mensagem em seu conteúdo. Entretanto, a redução na forma pode ser um bem inevitável.
Alguns profetas do apocalipse linguístico chegam a anunciar mesmo o fim dos tempos verbais, pela formação de dialetos e tribos na Babilônia virtual. Outros pregam que sites, blogs e softwares de mensagens instantâneas estariam deletando a escrita escorreita de nossa formação. O universo literário acabaria numa casca de noz. Como se houvesse, inconstitucionalissimamente, uma régua magna que medisse a importância das palavras pelo seu tamanho (Freud adoraria esse papo). O Guiness mantém a famosa palavra de 27 letras que aprendemos na escola como a maior da língua portuguesa. O Wikipédia propõe outra, anticonstitucionalissimamente. O fato é que tamanho não é documento ou melhor, não é documentado, posto que tais brutamontes vocabulares não figuram em fontes jurídicas, literárias ou históricas. Não aparecem senão em registros sobre palavras compridas. Grande coisa!
E se fosse para embromar, esticaríamos mais a prosa. Que tal um neologismo? Trocando o prefixo “in” para “infra”, invento um novo palavrão português: infraconstitucionalissimamente. Seria um advérbio designando o modo de um dispositivo assaz infraconstitucional. Haveria outros nomes ainda mais feios, que por serem técnicos ou científicos, ficam fora da briga de gigantes. O nome químico para titina, maior proteína existente, contém 189.819 letras, o que extrapolaria em muito meu espaço nesta coluna. O curioso é justo essa substância ser responsável pela elasticidade em nossa musculatura. O certo é que entre sístoles pós-modernas e diástoles barrocas, o coração da literatura jamais enfarta.
O pior reducionismo não ocorre na forma e sim no conteúdo. Estavam os antigos preocupados em discutir se suas barrinhas de argila desapareceriam com o advento do papiro? Ou se o surgimento da imprensa moderna anularia as abobrinhas manuscritas na idade média? E o e-book substituirá o livro? Que importa? Sempre teremos assunto e sempre haverá linguagem para isso. É o velho filme reprisado. Aliás, não faz muito, escrevia-se “cinematógrapho” para designar a sala de exibições da sétima arte. Logo encurtou para cinema. E chegamos a ver “cine” piscando em alguns luminosos.
E vossa mercê acaso não gerou vosmicê que depois virou você? Confessa aí! Vai dizer que nunca teclaram com... vc?
Texto publicado em:
Para visualizar a suposta maior palavra científica do mundo.
Clique aqui: http://www.sarahmcculloch.com/luminaryuprise/longest-word.php
Única fonte que encontrei.
Carece confirmação.
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