Mário Gayer do Amaral
mariogayer@hotmail.com
Tio, desculpa se o aborreço, só quero um pouquinho de sua atenção.
Não tenha medo de mim. Sou um menino que sonha nas ruas de uma cidade que não para nunca.
Fico nas ruas brincando com uma bola meio murcha sonhando algum dia ser Ronaldinho ou Neymar.
Quando a refeição que sobra dos restaurantes é jogada no lixo eu sinto que estou no paraíso apesar de lutar pela minha sobrevivência.
Sabe de uma coisa, tio, confesso que sinto falta de carinho de mãe, o abraço de pai e de um lugar quentinho pra dormir porque a calçada nunca foi berço pra mim.
Existe um dia, no entanto, que esqueço tudo isso e por breves instantes, sou igual a aqueles que vestem roupas de grife e que sem nenhum motivo me batem e ameaçam fazer coisa horrivel igualzinho o que aconteceu lá com aquele cara de uma tal Brasília, que nem sei onde fica mas dizem que é linda.
É o domingo que vou junto com meus amigos ao campo de futebol pra ver o meu time jogar e, apesar de me olhar com desconfiança e medo só porque visto uma camisa surrada de propaganda de refrigerante, alguns tios e tias deixam entrar junto com eles, mas pedem pra ficar quieto senão os “polícia” me expulsa do estádio.
Vendo os jogadores entrarem em campo e serem recebidos com toda a festa da sua alegre torcida, me emociono mais ainda porque outro tio me deixou entrar junto com eles. Isso nunca vou esquecer.
Quando o jogo acaba, minha vida volta a ser o que era antes e sigo nesse caminho sem esperança, mas acredito que, algum dia, as pessoas não me vejam como alguém que cheira cola e pede dinheiro, mas como alguém que tem sonhos como qualquer um da minha idade.
Só peço uma coisa. Não vá embora senão os caras que vendem aquela “pedrinha que faz viajar” destruirão minhas esperanças.
Deixe-me sonhar.
Para terminar esta crônica, parafraseio aqui o cantor Paulo Diniz em sua música de grande sucesso As Estradas.
“Das estradas que o mundo tem, vou andando sem ninguém”.
Publicado dia 24/06/11
Diário Popular
Publicado dia 24/06/11
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