sábado, 16 de abril de 2011

Ponto-final

Por: Anderson Reichow
       andersonreichow@gmail.com
 
Você sabe o que é um epitáfio? Aquela frase que mandam gravar no túmulo da gente... Pois é! Eu nunca vi um epitáfio com ponto-final. Deve até existir, eu sei, mas o fato é que não conheci nenhuma lápide bem acabada. Acho que as pessoas deixam as frases em aberto com a intenção de mostrar que a morte não é o fim, e que só o criador é que poderia dizer “Muito bem, a partir daqui a gente coloca letra maiúscula e inicia uma nova passagem.” Tenho problemas com isto, confesso, e não tem nada a ver com a fé dos entes queridos. O que me dói é apenas a falta de correção.

Aliás, se o negócio tivesse mesmo a ver com a ideia de continuidade, bastaria dizer que toda aquela areia que esparramam na cova é muito pior para as possibilidades do defunto do que um ingênuo sinal de boas intenções gramaticais. Se o cadáver acordasse para continuar a redação, não teria jeito de alcançar a superfície. Na verdade, as frases mal terminadas chegam a ser uma provocação para o finado. Não passam a chave, mas quebram a maçaneta. Assim não dá!

Porém, nada pior do que quando se resolve usar aspas. Malditas citações. Quer dizer: o sujeito passou a vida inteira falando e não disse nada que servisse para ser o seu discurso final, para o resto da morte? Duvido. Isto é coisa de gente que não presta atenção nos outros. Preferem citar o evangelho, o malfadado salmo 91. Dizem que parente é serpente, e serpente é mesmo um bicho que adora a bíblia, desde sempre. Gente pouco original.

De fato, esse assunto de entes queridos é muito triste. Até porque os entes queridos só existem na hora da morte, claro. Ninguém leva um ente querido para um jantar ou para uma viagem, mas quem sabe no meio de todo esse papo de jazigo alguém sinta aquela energia mágica dos velórios e comece a anotar alguma coisa para servir como epitáfio do vovô, da vovó, do titio. Pela primeira vez o morto ficaria no lucro. E se eu tiver algum azar e acabar morrendo daqui a pouco, por favor, não esqueçam do ponto-final.

Um comentário:

  1. Que macabro isso. Mas enfim, a gente sai na chuva é pra se molhar né Sr Epitáfio!?! Então tratemos de escolher uma frase tumular desde já... Eu quero que recitem na minha placa o meu poema Poeta Aprendiz que serve sempre como boas vindas pra quem começa ler minhas poesias, e quero que coloque o ponto final. Pois seja lá o que tiver que continuar, não será aqui na Terra e sim do lado espiritual, volto para mandar mensagens psicografadas... e venho ler seu blog também, tá Sr Epitáfio! bjss e valeu a dica do ponto... ( . )

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